O pai de Caio chegara em casa com todo o seu cansaço habitual de homem trabalhador, que suava para conseguir sustentar sua família com horas de trabalho duro. Já era tarde da noite, e, após ter tomado banho, adentrara no quarto, qual sua esposa o esperava com as luzes acesas, coisa que não acontecia naquela casa, ele se sentou na ponta da cama e a conversa começara.
Nesses mesmos instantes, Caio levantara de sua cama para tomar um copo d’água, mas ao ver a porta entreaberta no quarto dos pais, passou com lentidão prestando atenção em sobre o quê falavam eles.
- Acho que devemos contar logo a ele - Ele ouvia suma mãe dizer - ele tem o direito de saber a verdade.
- Não! - Seu pai dissera com firmeza - ele ainda não está pronto para saber disso.
- Mas ele merece saber a verdade sobre a vida dele.
- Ninguém vai contar nada para o Caio - Disse, dessa vez mais nervoso, o pai do garoto. - e esse assunto acaba por aqui, entendeu?!
- Claro.
A porta se fechara e a luz foi apagada.
Caio estava ali, perplexo, voltara ao seu quarto, e, deitado em sua cama, ficara lembrando da conversa que seus pais haviam tido naquela noite. Ele pensava, imaginava e criava hipóteses sobre o quê poderia ser. Algo que ele, no auge de seus quatorze anos, ainda era imaturo para saber, algo sobre sua vida. Seria também algo que mudaria o rumo dela também?
Nos dias que se seguiram, o garoto andara quieto e agia com considerável desanimo, aquela conversa que ouvira martelava sua cabeça com uma explosão de hipóteses sobre o que se tratava tal assunto. Ele queria saber. Ele tinha o direito de saber, já que era algo tão importante e que envolvia-no. Que mexia com seu passado.
Um dia sua mãe percebeu que o menino andava estranho, demasiadamente quieto, totalmente diferente daquele garoto extrovertido, sorridente e tagarela que Caio sempre fora. Sua mãe foi falar com ele para tenta descobrir o que acontecia com o menino.
- Caio, porquê está tão quieto nesses últimos dias, aconteceu alguma coisa?
Caio deveria ou não dizer sobre aquela noite? Ele decidiu que sim, respirou fundo e começou:
- Mãe, é que eu ouvi...- Nesse momento a porta se abrira e seu pai adentrara ao cômodo , deixando Caio paralisado. Ele instantaneamente se calou e seus olhos ficaram assustado.
- Oi amor - Disse ele para a esposa, dando-lhe um beijo - Olá garoto.
- Porquê chegou tão cedo hoje? - Indagou a mulher.
-Cansei de me sacrificar fazendo horas extras, agora quero ficar com a minha família o maior tempo possível.
- Mas, e as despesas?
- Damos um jeito.
- Ele foi em direção ao quarto pegar roupas e em seguida foi a banheiro tomar um banho.
A mãe se voltara novamente à Caio:
- O quê estava me dizendo mesmo?
- Nada não mãe. Vou dormir, boa noite.
- Boa noite, filho.
Naquela noite , mais uma vez estava o quarto de luzes acesas, o homem adentrara-no e logo a mulher o disse:
- Não é para ficar com a família que você está fazendo isso - dizia ela em tom acusador - é para vigiar á mim e ao Caio.
- Isso mesmo! Você acha que não te conheço? A primeira oportunidade que aparecer você falará tudo.
- Não confias em mim?
- Nesse caso? Não! Agora apague essa maldita luz que eu preciso dormir.
Dessa vez Caio não ouvira nada, já estava dormindo, mas, de certo modo, também sabia que o motivo que seu pai dera era falso.
Caio agora queria falar sobre o assunto, saber a verdade, mas apenas confiava em sua mãe para isso, e por conta do novo horário de trabalho seu pai e sua escola, nunca mais ficara a sós com ela para falar sobre tal assunto.
Os dias se passavam, e aquela rotina sempre impedia Caio de procurar adentrar sobre tal assunto.
Uma semana depois, ao deitar, ouviu barulhos de papéis em seu travesseiro, ele repetiu a ação para confirmar o que acontecera. Ele se levantou, acendeu a luz e foi olhar o que fizera aquele barulho, ao colocar a mão dentro do travesseiro, ele sentiu os papéis em sua mão, ele os puxou com as pontas dos dedos, os pegou, os arrumou e viu. O primeiro era uma foto de dois adultos até então desconhecidos segurando um bebê, ele fitou a foto pensando no que aquilo significaria, resolveu ver o outro papel, era um recorte de jornal, ele leu e seu queixo caiu, seu coação disparou, não acreditara naquilo que vinha em sua cabeça, após ler e reler aquele recorte, qual relatava um acidente de carro no qual, os citados Maria e Sérgio morreram na hora e o filho do casal e o filho do casal sobrevivera, filho esse que se chamava Caio, que, segundo a reportagem, passaria a viver com os primos de seus verdadeiros pais, depois do recorte havia uma segunda foto, sua verdadeira mãe, junto aquela qual acreditara ser sua genitora.
Agora as coisas faziam sentido em sua cabeça, a única coisa que não entendia, era o motivo de terem escondido isso dele, porque não lhe contaram logo a verdade?
No dia seguinte, Caio pegou uma sacola, colocou algumas roupa e os papéis encontrados no travesseiro, e, quando teve uma brecha, fugiu de casa.
Uma semana depois fora encontrado morto com um tiro nas costas e os recortes e fotos nas suas mãos.
Após esse acontecimento, aquele homem descobrira o que sua mulher havia feito e a espancara, quase lhe tirando a vida e logo após fugira para uma outra cidade, uma pequena do interior qual passara a sua infância.
Hoje, anos depois desses acontecimentos, Caio continua sozinho, ninguém sabe por onde anda aquela mulher que lhe contara à verdade, ela nunca mais visitara o túmulo do garoto, que agora é apenas mais um no meio de tantos.